São Leopoldo celebra o Hip Hop em evento cultural
- Melanina Informa
- 28 de nov. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de fev. de 2019
Evento promoveu o debate sobre a cultura negra e o combate ao racismo

O evento “Dia do Hip Hop São Léo” aconteceu no último domingo, dia 25 de Novembro, no Ginásio Municipal de São Leopoldo, região metropolitana de Porto Alegre. O evento era alusivo ao mês da Consciência Negra, tendo como objetivo promover a cultura negra, o debate sobre questões étnicos raciais e a restauração da luta afro. Representantes do Coletivo de Hip Hop em São Léo, Luisa Nascimento, mais conhecida como Nega Bula e Paula Nascimento deram início ao debate apresentando os palestrantes e reforçando o quanto a luta pelo movimento negro é necessária.
Uma das palestrantes, Sani Figueiredo, participante do Coletivo Atitude do movimento de Esteio, começou o debate lembrando a importância da representação negra e o combate ao racismo. Precisamos continuar falando sobre o racismo em todas as classes, com os pretos, brancos, pardos e amarelos, precisamos desconstruir os muros dos preconceitos" ressalta Sani.
O combate a violência entrou em pauta com o palestrante Eduardo Yohanness, professor de dança e coreógrafo, ele destacou que precisamos combater a violência contra a juventude Negra, vítima da sociedade simplesmente por serem negros. O professor traz dados alarmantes sobre a morte dos jovens, segundo o Mapa da Violência, o Brasil é o país que mais mata jovens negros no mundo, a maioria das mortes são classificadas como homicídios, 75% são mortos pela polícia e 25% por combates as drogas ou outros delitos; ou seja, o órgão que deveria proteger, mata. A nível da cidade de São Leopoldo, a cada 3 homicídios de jovens, 2 são negros e um é branco. São Leopoldo é a quarta maior cidade de violência contra a juventude negra, perde somente para cidades como Alvorada, Porto Alegre e Caxias do Sul.
O coreógrafo ressalta que a cultura negra é retratada pela sociedade como algo descriminalizado, usando como exemplo o Hip Hop, o Carnaval e o Funk que só foram culturalmente e socialmente aceitos muitos anos depois, quando representados por brancos. Ele questiona o país que se diz multicultural, mas não aceita a cultura negra como ela é. "A cultura negra para ser aceita precisa ser clareada, um exemplo citado é o samba, que só foi aceito quando Tom Jobim colocou um piano e o chamou de Bossa Nova" comenta Eduardo.
A ativista Sani relembra que estamos na década da afro descendência, período de 2015 a 2024, nessa perspectiva, o Brasil é o segundo maior país com números de negros, perdendo apenas para a Nigéria que fica na África, segundo o seu raciocínio, existe um processo de clareamento no país tentando torná-lo eurocentrado desde a escravidão. “O Brasil não é branco, ele é preto e os pretos são prejudicados desde a escravidão devido a falta de reparo” revela. Sabemos que o país simplesmente abriu as portas e não deu nenhum auxílio para aqueles que tinham acabado de conquistar a sua liberdade, olhando este ponto de vista, após esse período começou os incentivos para os alemães e italianos virem para cá, para clarear o centro das cidades, não escurece-los dando oportunidades aos negros.
Sani defende que o racismo precisa ser exposto e o compara ao câncer, igualando as fases da doença com o racismo, precisamos saber qual o grau, fazer uma biópsia e expor a ferida, precisamos e devemos falar. O impacto dessa doença chamada racismo, acontece principalmente na infância e as consequências na juventude, os nossos jovens estão morrendo porque não tem uma visão, eles não enxergam, eles não se veem, precisamos parar de banalizar essas questões.
O último palestrante, Elson Luiz da Costa, mais conhecido como Mano Cascata, um dos fundadores do grupo Preconceito Zero, comenta que a violência tem cor, gênero e caráter. Questões que vem ganhando força como o machismo, a homofobia e as discussões sobre o feminismo mostram que o país não é democrático. Elson acredita que a eleição de Jair Bolsonaro será algo bom para mostrar que suas lutas não são vitimizações e o ano que está por vir será a prova de que nenhuma luta é em vão. Segundo ele, o negro descobre que é negro quando se tem um não, quando se tem uma cara fechada, insultos, quando não são representados na Tv, quando o cabelo crespo se torna feio, quando o padrão de beleza não os incluí, hoje, “somos apenas consumo para o capitalismo, o mercado a ser explorado", lamenta Cascata.
Uma das organizadoras do mês da Consciência Negra em São Leopoldo dona Nadir de Jesus, encerra o evento com a fala de que o povo gaúcho precisa reconhecer a importância do povo negro, seja na Semana Farroupilha com lanceiros negros até questões atuais. “Precisamos colocar a nossa cara preta em todos os lugares exigindo respeito. É necessário que a fala seja para todos, para aqueles que não tenham o cabelo como o nosso, para quem tem menos melanina na pele, precisamos e devemos estender as nossas conversas” encerra a militante.
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