Evento Manifesto Porongos desconstrói a história dos negros no estado
- Melanina Informa
- 17 de nov. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de nov. de 2018
Evento aconteceu na escola técnica IFSul - Campus Sapucaia do Sul no dia 13 de novembro


O Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) do instituto federal de Sapucaia do Sul, promoveu na quarta - feira, dia 13 de novembro, o evento “Manifesto Porongos: Reconstruções e reconsiderações da história negra no Rio Grande do Sul”. Durante o período da manhã e da tarde, o auditório Pedro Kaiser recebeu apresentações do teatro discente, dança, música, palestras e debates sobre o empoderamento da negritude gaúcha.
Na parte da tarde, a professora Renata Carvalho abriu o evento cantando sobre a força da mulher negra e professora, como também os desafios da mesma em uma sociedade cada vez mais hostil. Em seguida, com o auditório lotado por alunos e alunas do ensino médio integrado com os técnicos de Eventos, Plásticos e Informática, foi a vez do grupo de rap Rafuagi de Esteio, apresentar o documentário “Manifesto Porongos” e subir ao palco para uma bate papo acerca da história negra na guerra dos farrapos, em 1844.
“Manifesto Porongos” documenta a participação dos negros escravos, chamados Lanceiros Negros, que lutaram ao lado dos farrapos em troca de suas liberdades. Entretanto, temendo que um grupo de negros libertos, armados, organizados e com capacidade militar pudessem ao fim da guerra promover uma rebelião escrava, foi feito um traiçoeiro acordo entre David Canabarro, um dos líderes dos farrapos e Duque de Caxias, comandante do exército imperial que resultou no chamado Massacre de Porongos, uma chacina que vitimou mais de 500 negros farroupilhas. O documentário busca recontar esse período tão celebrado e homenageado pelos gaúchos e trazer uma visão real dos fatos.

Após a exibição, Renata chamou ao palco os artistas Rafa e Ricky criadores do grupo de hip hop Rafuagi, de Esteio, região metropolitana. Rafa iniciou o debate comentando que o grupo existe desde 2004, porém somente em 2016 eles conseguiram levantar toda a pesquisa para o documentário, já que, a educação escolar básica aborda uma visão totalmente etnocêntrica sobre os principais fatos históricos, omitindo qualquer outra perspectiva que sai desse pensamento do homem branco como o herói.
Com o documentário, uma música de mesmo nome foi composta pelo grupo. Rafa conta que eles foram ameaçados três vezes por trazerem uma versão diferente da hino sul rio grandense. “É uma revisão da história, é preciso compreender o passado para refazer o futuro” completa o artista. Como exemplo de reconstrução dessa história, Rafa explica a expressão “trigada” que é exposta no documentário. Os negros sobreviventes ao cerro de Porongos, foram enviados para o Rio de Janeiro para voltarem a serem escravos, forçados a carregar baldes cheios com dejetos retirados de latrinas que escorriam por suas peles pretas, deixando listras brancas como se fossem tigres. As pessoas brancas vendo aquilo, comentavam “Lá vai aquele trigada”.
Rafa ressalta a importância do ensino da cultura e história afrodescendente nas escolas no Brasil, visto que, muitas vezes o jovem negro larga o ambiente escolar por não se identificar com o que é ensinado. Para concluir, o grupo conta um pouco sobre a maior casa de hip hop da américa latina, a Casa de Cultura de Hip Hop de Esteio, criada pelo grupo Rafuagi e que completou um ano no dia 11 de novembro. A casa foi cedida por uma polonesa que vive em Esteio, a Dona Flora, e hoje atende mais de 4000 pessoas, oferecendo oficinas culturais para os jovens, biblioteca, estúdio musical, quadra poliesportiva, serigrafia e muito mais. No final do evento, o grupo Rafuagi cantou o rap “Manifesto Porongos” animando toda a plateia do IFSul.
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