A pesquisadora Letícia Barbosa é referência na construção do movimento negro em Porto Alegre
- Melanina Informa
- 26 de nov. de 2018
- 13 min de leitura
Atualizado: 28 de nov. de 2018


A doutoranda em Letras pela UniRitter e Mestre em Geografia pela UFRGS Letícia Barbosa bateu um papo com a Melanina Informa sobre o seu seminário “A Geografia da Cultura Negra no RS”, o Grupo Cultural Razão Negra - um dos primeiros grupos do movimento negro em Porto Alegre - e os desafios dos indivíduos negros que estão na academia. Além disso, Letícia falou sobre sua formação, vivências e o surgimento do 20 de novembro.
Leia a entrevista completa abaixo:
Melanina Informa: Sabemos que o Seminário A Geografia da Cultura Negra no RS teve sua segunda edição neste ano, e tivemos o prazer de prestigiá-lo na UniRitter Campus FAPA. Mas nos conte mais como surgiu a ideia do seminário, e as expectativas para o futuro do mesmo.
Letícia Barbosa: “O seminário surgiu em sua primeira edição em 2008, a partir do meu mestrado em Geografia, na Universidade Federal do Rio Grande a dissertação tratava de uma temática sob o viés da Geografia Cultural. Diante de elementos que eu coletei para fazer alguns artigos (que ainda estão em rascunho) sobre a negritude, sobre religião e sobre quilombos, me deparei com a falta de bibliografia sobre esse estudo. Decidi fazer uma ação de extensão, como técnica administrativa da UFRGS, pois tenho a possibilidade de cadastrar ações de extensão e essa minha primeira ação de extensão foi muito bem recebida pela comunidade.
A ação de extensão ocorreu dentro das dependências da UFRGS no Campus do Vale com o apoio da direção do instituto onde eu trabalho, Instituto Geociências, e também com co-participação do programa de Pós-Graduação em Geografia, onde eu estava completando o mestrado. Na ação de extensão tivemos assuntos de todas as áreas, dentre eles, sobre medicina, tivemos sobre quilombolas, sobre religião e na ocasião nós estávamos também comemorando com ênfase a sociedade Floresta Aurora, sociedade centenária que foi fundado por negros.
A sociedade Floresta Aurora, foi fundada por negros alforriados que juntavam dinheiro para fazer os enterros dos seus irmãos negros e naquela ocasião constatei ser merecedora a homenagem e citá-la dentro da academia. A Floresta Aurora tem mais de 130 anos, pois ela surgiu antes da abolição da escravatura. Passados alguns anos, reuni um novo material desta vez da geografia das religiões, que ainda está em rascunho, depois de 10 anos. Tentei um doutorado na área de antropologia e não tive sucesso na seleção, porém alguns escritos devem virar artigos.
Depois de quase 10 anos, precisamente em 2015 comecei a estudar sobre essa vinda dos ganeses para o Brasil, ganeses, haitianos, senegaleses, entre outros. Essa grande África que a gente tem, que veio parar aqui no Brasil, eu pesquisei durante seis meses em Caxias do Sul. Dos ganeses e senegaleses que eram maior número em Caxias, coletei alguns dados sobre o acolhimento e não toquei na questão de racismo ou de números estatísticos para comprovar o número que estava residindo e/ou trabalhando em Caxias, foi uma pesquisa muito gratificante.
Em seis meses de pesquisa, fiz um artigo e fui apresentar na Universidade Nova de Lisboa, em Portugal, fiquei lá uns quinze dias e apresentei o trabalho na universidade no Congresso Internacional de Ciências Sociais. A partir daí comecei a ter mais interesse ainda, não só pelo o que acabava de chegar em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, mas buscar elementos sobre o que nós negros temos aqui no Rio Grande do Sul que seja representativo. Isto começou a me despertar o desejo de buscar novas pesquisas e comecei a coletar alguns materiais.
Eu dizia ‘Vou fazer de novo um segundo seminário’, só que esse segundo seminário será para gerar bibliografia, uma bibliografia que fale um pouco das nossas especificidades em várias áreas como a área de Sociologia, a área de Geologia, a área de Arte, todas essas áreas sendo oferecidas também
como eixo temático na proposta do seminário. Fizemos o seminário com a co-participação do Programa de Pós-Graduação em Letras, da UniRitter, representado pela professora Raquel Vásquez que é minha orientadora no doutorado que desenvolvo atualmente, ela também deu o apoio necessário para que o seminário acontecesse e participou efetivamente das atividades.
A ideia foi colocar no fórum somente palestrantes negros, profissionais das mais diversas áreas, falando sobre as nossas especificidades. Então o seminário iniciou com a palestra da Profa. Dra. Heloisa Pires Lima, escritora infantil e antropóloga, que trata muito bem essas questões de diversidade, de identidade dentro de sua literatura que é para as séries iniciais. Sabemos que nada mais conveniente do que tratar os pequenos para que comecem a se identificar a partir da literatura.
Heloísa fez a abertura do seminário e após vieram algumas outras falas como da área de psicologia, da área de medicina, da área da publicidade, artes plásticas e outras transitamos em nossas discussões em interação com o público, por diversas áreas e foi muito gratificante, apesar de um público reduzido.
A partir das falas/palestras e das comunicações apresentadas que é importante citar porque tivemos uma acadêmica da área de comunicação da UFSM, estudante de geografia da UFRGS/Campus Osório, estudante de geografia da UFRGS/Campus do Vale, estudantes da UFPEL. Estes trabalhos vão compor a bibliografia do seminário que queremos divulgar e que também vamos reunir a fala dos palestrantes em formato de texto.
A ideia desse seminário, como eu já disse, é gerar bibliografia, porque hoje depois de 10 anos tentando fazer artigos com a temática sobre o negro eu me deparo com a carência que existe de bibliografias, principalmente em meu doutorado, embora eu tenha conhecimento porque participei do movimento negro. O meu doutorado não trata somente sobre o movimento negro, trata da cultura, da poesia e aprofundará um capítulo sobre o movimento negro e discutirá em outro capítulo sobre o termo afro dentro da denominação das artes e denominação do nosso próprio “existir” , afro gaúcho, afro brasileiro. Está sendo elaborado na tese o questionamento e argumentações em relação a isso.Coloco como pesquisadora que somos descendentes de africanos, mas não somos africanos.
Então dizem ‘porque a Letícia uma pesquisadora afro gaúcha’. Não, a Letícia é uma pesquisadora, gaúcha. E qual a etnia da Letícia? Negra obviamente. Existem alguns questionamentos que podem ser feitos e serem trazidos a luz da discussão e fazer com que seja um colaborativo para efetivamente saberem que existe uma produção textual dentro do estado, existe uma arte dentro do estado. Oliveira Silveira é um ícone, nome que sempre se fala, principalmente no mês de novembro, mas vamos falar dele e abrir as portas para que outros falem de outros. Lembremos de Oliveira, mas também de trazer outros anônimos. Acho que está mais do que na hora da gente se reconhecer dentro do estado.
É um estado eurocêntrico, nós sabemos disso. Como a maioria dos estados do Brasil, mas em especial o Rio Grande do Sul tem uma certa negação da presença do negro. Apesar de alguns acharem que é uma opinião minha muito forte, basta perceber que nós negros não somos reconhecidos e não temos a cultura divulgada. Não estou falando dos lanceiros negros, tampouco da escravidão que é o que mais aparece na memória e na história do RS. Dos negros que desceram em Rio Grande, ou da maioria negra em dada época no Areal da Baronesa e na Cidade Baixa. Existem outras aspectos culturais a considerar e não só no 20 de novembro, é algo para se colocar nos livros, digitalizar e fazer circular informação sobre a nossa cultura de uma maneira geral”.
Melanina Informa: O seminário foi realizado no campus do Vale na UFRGS e no campus FAPA na UniRitter. Na sua opinião qual a importância de construir esse evento tanto na instituição pública como na privada?
Letícia Barbosa: “A importância está no próprio tema – A Cultura negra no RS - que nós precisamos divulgar aos nossos estudantes e comunidade em geral eles são o meio para que a divulgação ocorra com mais ênfase.Os estudantes são os produtores de conhecimento, são produtores de material, vocês (Melanina Informa) são produtores de material, seja em que área for.
A questão de elaborar o seminário na UFRGS e na Uniritter é trazer para a academia a necessidade de haver uma discussão sobre as diversidades que existem, neste momento o assunto do seminário é sobre o negro, mas devemos estender para outras questões sócias, a do índio, por exemplo. Sei que no Instituto de Letras, atualmente, temos estudantes de aldeias indígenas.
Eles também estão conseguindo chegar. As ditas minorias, estão conseguindo chegar a algum lugar, vamos dizer assim. A UniRitter que é uma universidade privada carece de mais ações como estas. No meio acadêmico privado mais ações são necessárias, por fazer parte como discente desenvolvendo minha pesquisa na UniRitter, escolhi a instituição para que houvesse esse tipo de fórum nesta academia”.
Melanina Informa: Ainda sobre o seminário. Para muitas pessoas, a frase “a geografia da cultura negra no rio grande do sul” pode parecer algo inusitado, o que tu quer dizer com essa frase? E poderia ser uma forma de mapear o território negro no estado?
Letícia Barbosa: “Esse título ele dá vazão a várias discussões. A geografia, embora eu não seja formada na área de geografia, pois minha graduação foi em Letras, o título do seminário subentende vários vieses, principalmente o cultural que é onde foi feito o meu mestrado que tratava da psicologia social do meio ambiente.
Então nós podemos tanto mapear onde existem os negros, como podemos trabalhar a questão de identidade, convivência, afetividade que chamo de topofilia em minhas pesquisas. A topofilia é afetividade do meio ambiente. Podemos discutir também a antropofobia, que diz respeito aquele negro que se sente excluído, que tem problemas psicológicos com relação ao racismo, ao preconceito.
Então existem várias formas de falar da geografia do negro no Rio Grande do Sul, por isso que no seminário as várias áreas tiveram o “lugar de fala”, a cultura negra de maneira geral, foi apresentado aquilo que nos representa”.
Melanina Informa: A certa do Grupo Cultural Razão Negra, falado no seminário, como foi fazer parte de um dos primeiros grupos do movimento negro em Porto Alegre?
Letícia Barbosa: “É um dos primeiros, porque antes desse existiram outros, mas este, o Razão Negra, teve bastante ênfase na época de 1978. Ingressei no grupo com 14 anos de idade, eu era a componente mais jovem do grupo. O grupo me deu um norte para saber exatamente o que representava a minha presença em uma sociedade excludente. Em termos de educação, eu estudei sempre em colégio público, mas naquela época durante os primeiros anos escolares até a oitava série, eu era a única negra dentro da sala de aula.
No segundo grau, não foi muito diferente e na faculdade e depois nos dois cursos de pós-graduação da mesma forma. Participando do Grupo Razão Negra, onde eu tinha a oportunidade de estar com meus companheiros, meus iguais, etnicamente falando, recebi informações sobre o mundo que talvez antes dos 14 anos eu não percebesse tanto. Venho de uma família miscigenada, com a maioria de nós negros brasileiros.
Estar no grupo me deu referências, acredito que muitos de nós negros brasileiros temos isso, aquela questão da gente poder se enxergar no espelho e eu estava na frente do meu espelho quando eu estava com os outros parceiros. Fiz teatro, me apresentei na Assembleia Legislativa, fiz apresentações em clubes e isso me oportunizou me enxergar como negra, porque eu acho que é uma construção necessária.
A oportunidade de participar do grupo surgiu a partir de um trabalho de Relações Públicas de uma conhecida que estava concluindo o curso na Unisinos, a partir daí ela criou o primeiro grupo chamado Nosso Teatro, que contava atores negros em uma peça. A peça se chamava “Esperando o Embaixador” com fotos e falas. A história era de um embaixador negro que chegava e era convidado para um coquetel, daí por diante uma série de assuntos relacionados ao racismo e outros faziam parte do trabalho.
A partir do Grupo Nosso Teatro, houve a necessidade e a vontade de aumentar a divulgação do que era produzido. Eu de espectadora no grupo Nosso Teatro passei a ser integrante do Grupo Razão Negra que no ano de 1980 contava com mais de cinquenta integrantes, a oportunidade da gente ter um maior contato com um número de jovens se estendeu. A gente se reunia em uma localidade, que hoje é chamada de Esquina Democrática, que na ocasião tinha outro nome, nós nos encontrávamos ali, sempre foi um lugar de reunião, protestos e inflamações sobre as questões sociais. O Razão Negra, um grupo de negros, foi um dos carros chefes dessas questões em Porto Alegre, tenho orgulho disso, de ter aprendido a me olhar no espelho, essa é a verdade”.
Melanina Informa: Atualmente o movimento negro vem crescendo cada vez mais no Brasil e no mundo. Como tu, sendo negra e participante de um dos primeiros movimentos no estado em uma época de censura, observa esse crescimento da representatividade negra?
Letícia Barbosa: “Eu observo como algo positivo porque as pessoas estão querendo ser vistas, embora naquela época houvesse censura, época de ditadura, nós não mediamos muito bem os perigos. Mas nós, atuávamos, enchíamos a Rua da Praia de negros e marcávamos dias e horas certas para estarmos ali. Entre a Andradas e Borges de Medeiros era um mar negro.
Eu acho que hoje essa participação está mais latente e as pessoas estão se preocupando mais em se reconhecerem, está mais madura essa discussão, porque não se houve só em esquinas como fazíamos e em lugares onde só negros podiam frequentar, que era a Associação Satélite Prontidão ou a Sociedade Floresta Aurora. Hoje em dia tudo está espalhado, essas discussões estão em universidades, em escolas, embora nas escolas eu ainda ache que deva ser melhor trabalhada a questão e avolumar se porque existe uma lei para isso que ainda não foi cumprida na sua extensão.
Eu dei aula um ano no colégio de aplicação e essa lei já existia e não havia uma preocupação em colocar no currículo a nossa cultura e acho que é por aí. Os jovens, as pessoas que estão tanto nas academias como trabalhando em ações afirmativas ou em grupos de resistência devem fazer as suas discussões de uma maneira que seja organizada e que gere algum resultado não apenas lamentações. Se passaram 130 anos, a gente deve agregar a nossa história elementos novos, elementos que não são falados e acredito que os grupos de hoje essa voz e isso que é importante”.
Melanina Informa: O Oliveira Silveira foi um dos líderes da campanha pelo reconhecimento do Dia da Consciência Negra na data do dia 20 de novembro. Como tu, sendo uma pesquisadora do poeta, observa o legado que ele deixou para o estado e para o país?
Letícia Barbosa: “Ele foi o precursor e grande incentivador, o homem que lutou para que fosse reconhecido esse 20 de novembro como uma data da Consciência Negra execrando o 13 de maio. O tempo que acompanhei o Oliveira, conhecê-lo como pessoa, como poeta e como autor foi uma satisfação. O 20 de novembro foi algo que foi sendo trabalhado, tijolo em cima de tijolo.
Esse 20 de novembro é importante justamente para trazer as discussões, para relembrar algumas coisas, para frisar que nós existimos e que existe uma cultura a ser reconhecida no país. Nós temos as nossas especificidades e um dia de comemoração, já que existem várias comemorações de outras etnias. Vamos usar como exemplo o Rio Grande do Sul, que comemora em algumas ocasiões específicas a vinda de imigrantes alemães e italianos, onde é que nós estamos nas comemorações de contribuição na constituição do estado? Acho que o 20 de novembro vem como um grito sobre isso.
Eu dei como exemplo o Rio Grande do Sul, mas isso serve para outras localidades. Temos que ser representados em cada pedacinho desse estado, em cada lugar do país e em cada cidade. O 20 de novembro vem com essa ênfase de retomar fatores culturais que não são reconhecidos ou registrados e é de extrema importância, mas volto a dizer, que não seja só com o 20 de novembro que consigamos ter fóruns de discussões e debates em escolas, academias, ongs e o que for sobre a nossa cultura, isso deve se dar de janeiro a janeiro”.
Melanina Informa: Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Porto Alegre é a cidade com maior desigualdade entre negros e brancos no Brasil. Na tua opinião, porque há tamanha desigualdade?
Letícia Barbosa: “Depende do tipo de desigualdade, se vamos falar em oportunidades isso é geral, não é só em Porto Alegre, não é só no Rio Grande do Sul, o Brasil tem essa defasagem de oportunidade para nós, negros, e isso é estatisticamente comprovado. Talvez muita mais no Rio Grande do Sul por ser apresentado como um estado europeizado, tanto que nosso cartão postal é Gramado, Canela…
Eu acredito que o próprio gaúcho não enxerga os negros dentro dessa visão postal, a diferença está justamente aqui, não reconhecer que existe mais um elemento que agrega e contribui. Vamos contar a história direitinho, quando os italianos e alemães chegaram, os negros já haviam chegado há muito tempo, a história é contada de uma maneira invertida ou somente aquilo que queiram contar.
Eu vejo que realmente não existe uma consideração porque não há uma história, não há uma memória e não há a fixação a partir da história de maneira positiva, a parte triste a gente já sabe. Eu considero que justamente não há uma visão sobre isso devido a memória e a história, que não foi devidamente sacramentada como a de outras etnias”.
Melanina Informa: Quais os principais desafios que tu, como mulher negra e acadêmica encontrou ou ainda encontra dentro da sociedade?
Letícia Barbosa: “Dentro da academia, eu posso dizer que o desafio está justamente em falar e pesquisar aquilo que a academia não quer registrar ou discutir, esse é o principal desafio. Nem tanto a questão de tratar a poesia do Oliveira, mas eu vou tocar em outros assuntos, a academia as vezes sufoca a gente porque nós podemos escrever, mas rezando pela cartilha de determinados teóricos.
Os teóricos apresentados na academia são a referência para o mundo branco. Na teoria europeizada, nem sempre vão me bastar, na sua grande maioria, não chegam a traduzir aquilo que eu quero trazer na minha teoria, na criação de uma tese e vincular um estudo voltado para a etnia negra. Esse é o meu maior desafio”.
Melanina Informa: O RS é um estado com pouco conhecimento histórico da etnia negra, podemos ver isso claramente retratado no que é ensinado acerca da história e da geografia gaúcha nas escolas. Na tua opinião como podemos construir a memorização da geografia e cultura negra no estado?
Letícia Barbosa: “Eu recebi essa semana um TCC para corrigir da graduação da geografia da UFRGS que propõe salas ambientes. Vejam bem, a partir do momento que você cerca o aluno em um ambiente próprio para entender e aprender algo cultural, ele tem que procurar interagir com aquilo. Este TCC traz a necessidade de cada disciplina ter o seu ambiente para que o aluno absorva melhor cada disciplina.
Nesta perspectiva seria interessante preparar os profissionais das áreas de história e geografia para trazerem para a sala de aula elementos que colaborem para o conhecimento da cultura negra. Como relatei anteriormente, necessitamos de aportes teóricos, mas precisamos também de profissionais que preencham essa lacuna.
Tem que haver momentos distintos, uma preparação da docência, do professor que está atuando em sala de aula, uma parceria com a escola e um local que seja adequado com o material específico que consiga chegar até o aluno para falar de uma realidade onde todos possam se enxergar nessa realidade. Porque em sala de aula esse tipo de teoria está escassa ou quase não chega e temos muitos alunos que são negros e nós precisamos chegar até eles, para eles se enxergarem e verem que há possibilidades de eles irem mais adiante”.
Melanina Informa: O empoderamento da juventude negra gaúcha é cada dia mais evidente. O que tu espera para esses jovens negros que estão começando seus manifestos?
Letícia Barbosa: “Eu espero sinceramente a juventude em geral melhore um pouco a questão da intolerância e que respeitem toda e qualquer diversidade. Com relação aos jovens negros, sugiro que estudem, não tem outra maneira, o único problema é que o país não dá condições para isso. Existem quilombos, existem ONGs e se os jovens têm conhecidos, busquem esses conhecidos, conversem sobre o tema, sobre ser negro num país onde somos a maioria e que mesmo assim somos invisíveis.
Para essa gama de jovens que está chegando, desejo que vocês tenham oportunidades e que lutem por elas, porque nós temos os nossos direitos. Que vocês consigam chegar até onde eu cheguei, porque eu sou exceção, precisamos de inclusões. É isso que eu desejo”.
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